Frases que ninguém liga a mínima…

«Education is not the filling of a pail but the lighting of a fire»

W. O. Yeats


Frases que ninguém liga a mínima…

António Sérgio:
“educar uma criança enviando-a à actual escola é como preparar um automobilista metendo-o no museu dos coches reais”
Mais nada!
No entanto, esta frase foi escrita em 1916!
Ave Sérgio!


Acordo Ortográfico na Madeira

Hoje, dezenas ou talvez  mais de uma centena de professores, foram “convidados” para uma conferência sobre o AO proferida pela Dr. Marguarita Correia do ILTEC. Esperava algo mais denso e profundo. Afinal, parece que todos os que resolvem falar para professores têm a necessidade de fazer uns resuminhos pedagógicos…

Pus duas questões, mas a Dr. Margarita Correia só respondeu a uma delas. A primeira versou sobre uma realidade que muitos professores portugueses vão encontrar e que duvido que aconteça com professores brasileiros ou de outros países da CPLP: turmas com alunos oriundos de outros países lusófonos ou com a marca da oralidade destes países, ainda que nascidos em Portugal. A pergunta era: se o AO admite duplas grafias, se admite situações facultativas, sendo ao mesmo tempo instrumento de unificação, onde reside a fronteira do erro? No falante? Na região (dentro de um mesmo país)? No país? Qual o critério do erro? É um critério geo-político?

Esta questão é muito sensível para nós, professores de português de um Portugal multi-étnico. A Dr. Margarita Correia disse que não tinha legitimidade para responder. Quem terá? A Dr. Margarita Correia disse que o ME com certeza que regulará esta questão. Então, pergunto eu e perguntamos todos nós que tentamos pensar um pouco pelas nossas cabeças, então é o poder político que definirá o erro? A que ponto chegamos? Não são os linguistas, os gramáticos, os filólogos… eu sei lá!… que deveriam fazer tal coisa?! Será o poder político por intermédio de alguns dos seus cientistas que definirá o que é norma a aplicar no país? Mas o AO não é já uma norma para ser seguida em todos os países lusófonos? Não, parece que vai continuar a haver duas normas (ou mais) e é legítimo perguntar: então para que serve tal acordo?


Mudar de ortografia no tempo de Afonso III

«Mudar de ortografia também não é fácil, mesmo em situações em que não haja ortografia codificada. Dou um exemplo simples.
No reinado do Senhor Dom Afonso III, a partir do qual a escrita portuguesa foi adoptada em documentos emanados da chancelaria régia (são de 1255 os primeiros testemunhos conhecidos), foram introduzidos em Portugal e difundidos a partir da corte dois novos grafemas (dígrafos): LH e NH para as consoantes soantes palatais, em substituição das antigas grafias GN, N, NI, NN, L, LI e LL. Pode parecer coisa pouca, coisa simples de se fazer e de se aprender.

O facto é que os tabeliães medievais, gente culta e de grande prestígio social, levaram décadas a habituar-se às novas grafias. Durante décadas as novas grafias conviveram com as antigas, testemunhando a dificuldade de um grupo profissional letrado da sociedade portuguesa medieval em adaptar-se a duas novas unidades grafémicas. Alguns textos mostram, inclusivamente, fusão dos dois tipos, ou seja, coisas como GNH e NNH —fusão de GN e NN com NH — como se NH por si só não bastasse para representar a consoante ou fosse demasiado estranho (“moderno”).»

António Emiliano Os três i’s do Acordo Ortográfico.


Razão de peso para ser contra o Acordo Ortográfico?

A neuro-linguista e psicóloga do desenvolvimento infantil, a americana Maryanne Wolf, no seu cativante livro sobre a evolução do cérbreo leitor Proust and the Squid, tem este precioso parágrafo (p.42-43) sobre a língua inglesa e a sua relação entre fonemas, grafemas e morfemas. Lendo estas linhas é impossível ficarmos indiferentes ao que tem acontecido no nosso país ao longo de quase 200 anos de alterações ortográficas, sabendo-se que, por exemplo, as línguas inglesa e francesa praticamente não sofreram alterações ortográficas desde o séc. XVIII…

«The English language is a similar historical mishmash of hom­age and pragmatism. We include Greek, Latin, French, Old En­glish, and many other roots, at a cost known to every first- and second-grader. Linguists classify English as a morphophonemic writing system because it represents both morphemes (units of meaning) and phonemes (units of sound) in its spelling, a major source of bewilderment to many new readers if they don’t under­stand the historical reasons. To illustrate the morphophonemic principle in English, the linguists Noam Chomsky and Carol Chomsky use words like “muscle” to teach the way our words carry an entire history within them—not unlike the Sumerian roots inside Akkadian words. For example, the silent “c” in “mus­cle” may seem unnecessary, but in fact it visibly connects the word to its origin, the Latin root musculus, from which we have such kindred words as “muscular” and “musculature.” In the latter words the “c” is pronounced and represents the phonemic aspect of our alphabet. The silent “c” of “muscle,” therefore, visually conveys the morphemic aspect of English. In essence, English represents a “trade-off” between depicting the individual sounds of the oral language and showing the roots of its words.»


Frases que minguém liga a mínima…

«O que temos agora, portanto, é um ensino público desvalorizado, apesar dos muitos excelentes professores que tinha, e tem, e um ensino privado que é quase sempre o preferido pelos que podem escolher. E assim, a impossibilidade de vir a optar por ele, por razões económicas, redundará numa forma de elitismo e conservadorismo social. A conceção de um Estado que dá formação a todos mas não valoriza os melhores produz massas medianas que não ajudam o país na competição com os mais evoluídos. O resultado pode pois ser perverso.»

João Boavida De Rerum Natura


Encontro Internacional do Ensino da Língua Portuguesa

Livro de actas do I Encontro Internacional do Ensino da Língua Portuguesa realizado a 30 de Junho e 1 Julho de 2008, à distância de um clique, aqui (procure o número temático de 2009).


O «novo português»

«O novo português não precisa de se concentrar – precisa de se “focalizar”. Não tem de ser resistente – tem de ser “resiliente”. Não imprime um texto – “printa”. E não tem esperança – tem “ilusão”.» Ler no Público.


Ensino do Português


Relatório PISA

Hoje de manhã, ao ler a notícia do Público, onde o nosso Primeiro-Ministro aparece a mostrar o relatório PISA como se de uma bíblia de leitura literal se tratasse, dei comigo a pensar: é desta que tenho de ir à procura da metodologia do relatório. Sem muita dificuldade, lá encontrei. Passo a transcrever (página 20, volume I, possível de ser descarregado aqui).

«Methods
• Around 470 000 students completed the assessment in 2009, representing about 26 million 15-year-olds in
the schools of the 65 participating countries and economies. Some 50 000 students took part in a second
round of this assessment in 2010, representing about 2 million 15 year-olds from 9 additional partner
countries and economies.
• Each participating student spent two hours carrying out pencil-and-paper tasks in reading, mathematics and
science. In 20 countries, students were given additional questions via computer to assess their capacity to
read digital texts.
• The assessment included tasks requiring students to construct their own answers as well as multiple-choice
questions. The latter were typically organised in units based on a written passage or graphic, much like the
kind of texts or figures that students might encounter in real life.
• Students also answered a questionnaire that took about 30 minutes to complete. This questionnaire focused
on their personal background, their learning habits, their attitudes towards reading, and their engagement
and motivation.
• School principals completed a questionnaire about their school that included demographic characteristics
and an assessment of the quality of the learning environment at school.»